O aumento na frequência e na intensidade de fenômenos climáticos no Paraná — especialmente tornados — tem ampliado o debate sobre a necessidade de cidades mais preparadas para enfrentar desastres naturais. Pesquisadores afirmam que o estado, considerado o segundo maior corredor de tornados do mundo, precisa adotar estratégias de prevenção, educação climática e infraestrutura mais resistente.
O tema voltou à tona após a destruição provocada pelo tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu em 7 de novembro. Antes disso, episódios como o de Marechal Cândido Rondon, em 2015, já haviam exposto a vulnerabilidade estrutural de diversas regiões paranaenses.
A pesquisadora Karin Linete Hornes, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), destaca que o Paraná registrou mais de 12 mil ocorrências relacionadas a eventos meteorológicos nas últimas quatro décadas, afetando cerca de 15 milhões de pessoas. Vendavais continuam sendo os fenômenos mais destrutivos. Segundo ela, a falta de educação climática e de políticas consistentes de prevenção agrava os impactos.
O conceito de cidades resilientes envolve planejamento urbano voltado à redução de danos e à rápida recuperação. Para Eduardo Gomes Pinheiro, doutor em Gestão Urbana pela PUCPR, obras públicas e ações governamentais devem considerar se ampliam ou reduzem a vulnerabilidade da população diante de eventos que já fazem parte da realidade local, como granizo, enchentes e estiagens.
Em Rio Bonito do Iguaçu, onde 90% da área urbana foi devastada pelo tornado, o governo estadual atua em duas frentes: laudos técnicos feitos por 140 engenheiros voluntários e a construção emergencial de 320 casas pré-fabricadas em woodframe. As moradias, entre 46 m² e 53 m², começaram a ser erguidas em 17 de novembro e devem ficar prontas em cerca de dois meses; a primeira entrega está prevista para ocorrer em até dez dias.
A parceria entre o governo do Paraná e a ONU Migração busca desenvolver projetos de cidades mais resilientes, com foco em soluções de longo prazo. As análises detalhadas dos episódios recentes devem orientar novas estratégias de mitigação.
Pesquisas de Maria Cristina Pietrovski mostram que a região Sul registrou 92 tornados entre 2018 e 2023, sendo 17 no Paraná. Eventos marcantes, como os tornados de 1992 em Almirante Tamandaré e Borrazópolis, ou o de 1997 em Nova Laranjeiras, reforçam a recorrência histórica. Para o climatologista Francisco Mendonça, o aquecimento global tem tornado os fenômenos mais frequentes e intensos, exigindo mudanças urgentes no desenho urbano, como áreas verdes de proteção para amortecer ventos.
Como se proteger
Especialistas orientam que a população acompanhe alertas de institutos como Simepar, Inmet e Inpe, e observe sinais no céu e em mapas de radar. Em casa, é recomendado ter ao menos um cômodo mais reforçado, como porão ou ambiente com laje e vigas estruturais. Em situações de emergência, buscar abrigo sob mesas ou camas ajuda a reduzir ferimentos por estilhaços. Para quem estiver na estrada, a recomendação é se afastar da área de risco, estacionar longe de árvores e postes e permanecer em posição de proteção.