Cão no chão, cão no telhado, cão na janela, cão na cama, cão no sofá, cão na máquina de lavar roupa, cão por todo lado. Essa é a realidade diária de Dona Nira, 75 anos, moradora de Francisco Beltrão. Em uma casa pequena e simples, ela divide o pouco espaço que tem com cerca de 90 cachorros, todos resgatados de situações de maus-tratos ou abandono.
A situação comoveu um grupo de voluntários, que há algum tempo tem tentado oferecer apoio. Entre eles está Liara Carneiro, arquiteta, que conheceu o trabalho de Dona Nira por meio da irmã mais velha. “Minha irmã Bruna foi levar ração e encontrou um cachorro muito debilitado. Ela mobilizou a família e mais algumas pessoas para ajudar. Foi aí que o grupo começou a se formar.”
Outros familiares também se envolveram. A irmã mais nova, Flávia, advogada, acionou a também advogada Sol, da Comissão de Direito dos Animais. Assim surgiu uma rede de apoio voluntária que hoje tenta garantir o mínimo de condições para Dona Nira e seus animais. O grupo é formado por Flávia Carneiro, Bruna Carneiro, Liara Carneiro, Sol Zanoni, Joseane Pontes Carneiro, Juliana Zanella Bortolotti, Luci Mara Mirandola, Michel Krammer, Débora Carneiro e Valéria Carneiro.
A rotina da idosa é marcada por esforço constante e ausência de descanso. “Ela acorda por volta das 4 horas da manhã para limpar o canil, a casa e a parte da frente. Depois começa a alimentar os cães. O dia inteiro é assim: limpar, alimentar, cuidar, ver se tem algum machucado ou alguma doença”, relata Liara. “Ela não tem tempo para si. Não consegue sentar e assistir televisão. Nem sei se ela tem televisão. Ela vive em função desse serviço.”
Segundo a voluntária, a principal necessidade de Dona Nira é ajuda em todas as frentes: financeira, com doações de ração, produtos de limpeza, roupas, cestas básicas e, principalmente, mão de obra. “Mas eu vejo, como profissional da construção civil, que ela precisa de um lugar para ela. Ela vive em um espaço insalubre, com 90 cães em uma casa minúscula. O ideal seria ter um espaço separado dos animais, onde pudesse descansar e viver com dignidade.”
Atualmente, os cães ocupam toda a casa. “Tem cachorro dentro da casa, que é pequena. Outros ficam na frente, em cobertas e sofás, e os maiores ficam no canil. Tudo é muito precário, porque ela depende exclusivamente de doações. O que ela recebe não cobre os gastos nem garante a manutenção do lugar.”
Para Liara, a única solução seria reconstruir o espaço. “Na minha opinião, deveria derrubar tudo e fazer um projeto decente. Separar o ambiente onde ela dorme, toma banho e se alimenta do espaço dos cães. A vontade é grande, mas só nós não conseguimos. Precisamos da mobilização da comunidade.”
O grupo de voluntários pretende viabilizar a construção de uma nova casa para a idosa, com dois pavimentos: o térreo serviria de abrigo para os cães, e o andar superior seria reservado exclusivamente para Dona Nira. “Ela merece uma boa noite de sono. Está cansada. O que falta para ela é dignidade.”
Mesmo diante de tantas dificuldades, Dona Nira segue resgatando e cuidando de animais. “Ela é uma pessoa maravilhosa, com um coração imenso. Mesmo sem condições financeiras, faz o possível. Se metade do mundo fizesse o que ela faz, o mundo seria um lugar muito melhor.”
Atualmente, o grupo conta com algumas doações pontuais, como as da ONG Arca de Noé e campanhas como o Pet Day. Mas a ajuda ainda é insuficiente. “Faltam doações, voluntários, gente para ajudar com a limpeza e a organização do espaço.”
Para ampliar a rede de apoio, os voluntários criaram um perfil no Instagram, onde divulgam a rotina da idosa e promovem campanhas de adoção. “Estamos tentando fazer com que ela tenha um pouco mais de dignidade. Ela faz muito pela sociedade, e pouca gente enxerga isso.”
Interessados em contribuir podem entrar em contato com os voluntários por meio das redes sociais. “Temos um grupo no WhatsApp e estamos sempre abertos a quem quiser ajudar. Toda contribuição faz diferença.”
Jornal de Beltrão
